domingo, 22 de março de 2009

História de leitura

É, como todos sabem eu faço graduação em Letras e na grade curricular existem muitas matérias inúteis relacionadas a pedagogia e práticas de ensino. Disciplinas essas que em sua maioria são utópicas e não condizem com a realidade, assim como as quatrocentas horas de estágio obrigatórias impostas pelo MEC. Mas, em meio a esses 70% de matérias vazias existem algumas legais, como no caso a disciplina semi-presencial que estou cursando esse semestre - "História da Leitura". A princípio achei que fosse ser uma chatice, mas os conteúdos desenvolvidos são bem legais. Uma das primeiras atividades propostas foi que os alunos escrevessem suas "Histórias de leitura", e ao escrever eu resolvi postar aqui também.

Lembro que fui uma leitora precoce. Tive a sorte de minha madrinha trabalhar na editora Globo (na qual os gibis da Turma da Mônica eram publicados na época), então ela trazia para mim todos os volumes que ela ganhava de cortesia do editor. Eu era bem pequena, tinha uns dois anos de idade, então a princípio ela lia para mim nos fins de semana, antes de eu ir dormir. Como durante a semana não havia quem tivesse tempo de ler para mim, eu inventava as falas: "Lia" no escuro. A imaginação ia longe. Mas justamente por essa curiosidade assim que entrei na escola quis logo aprender a desvendar as tais das letras, então no primeiro ano da pré-escola eu já estava conseguindo ler os meus gibis.

O primeiro livro "gordinho" que li foi "O urso com música na barriga", de Érico Veríssimo, quando eu tinha lá pelos meus três anos. Quando eu terminei o livro me senti uma heroína, como se tivesse feito algo incrível! Mas senti também pela primeira vez aquele "vazio" que dá quando nós terminamos de ler um livro bom. Até hoje esse é um dos meus maiores problemas: Tenho cinco, seis livros de cabeceira. Ensaio e ensaio para terminá-los, pois não gosto muito da sensação de solidão que dá quando um livro bom acaba.

Com 10 anos eu terminei quase toda a Coleção Vaga-Lume que havia na biblioteca de casa - A Montanha Encantada, A Ilha Perdida... Agradeço a escola na qual estudei desde pequena por nunca cobrar literatura até eu chegar ao ensino médio. Agradeço por todos livros retardados que eu tive que ler, pois assim tive tempo para poder me dedicar as "minhas" leituras, sem ter que dar satisfações para qualquer professora. Com mais sinceridade, agradeço a biblioteca da minha casa, pois se eu fosse realmente depender da escola eu seria apenas uma leitora de rótulo de xampu.

Aos 11 anos então ensaiei ler pela primeira vez Dom Casmurro. Admito, na época não entendi nem metade do livro, mas mais uma vez me senti a rainha das letras. Ainda olhava para a prateleira de casa assustada com o tamanho do livro "Guerra e Paz". Bom, para ser sincera até hoje não li, e creio que não vou ler até a formatura. Como diz a pichação no muro da COMFIL: "A universidade atrapalha os meus estudos".

Não me considero uma leitora preconceituosa, embora eu tenha certas desavenças com a poesia concreta. Uma colega me ajudou a superar esse trauma, mas ainda assim, é algo que não me atrai. Leio de tudo que me desperta o interesse, seja acadêmico, não acadêmico, literário, Best-seller ou até auto-ajuda. De Machadão a Harry Potter. O que falta é só o tempo. (Só não me recomendem cursos de leitura dinâmica, não acredito em tal coisa.)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

La étrenne

Enfim, o post de estréia!
Passei semanas pensando sobre o que postar, em que idioma postar, qual seria a finalidade do blog, até que por fim decidi que o blog será meu diário de relatos de opinião sobre qualquer coisa em geral. Sim, sem nenhuma especificidade. Tudo que eu achar especial ou merecedor de atenção, na qual eu possa aplicar minha opinão será citado aqui.




"La belle personne", um filme de Christophe Honoré será minha primeira "vítima". Não vou fazer uma resenha e nem contar toda a história ou o final para estragar a ida ao cinema de ninguém, apenas vou descrever alguns fatos sobre o filme que realmente me impressionaram.

Filmes sobre triângulos amorosos e dramas adolescentes e amores na juventude é o que não faltam. O que torna "La belle personne" especial é a profundidade que se dá ao tema, a sensação de realidade desses sentimentos.

O filme é inspirado em uma obra de Madame de La Fayette, o romance "La princesse de Clèves" (em português "A princesa de Cleves"). Nunca li o livro mas o filme me despertou essa vontade.
Franceses e seus romances psicológicos. Um universo realmente incrível.

A protagonista, Junie (Léa Seydoux), é uma bela garota que muda de colégio após a morte de sua mãe, e então se encontra em uma nova rede social formada pelos amigos de seu primo. Pela sua beleza, Junie provoca paixões logo de início.
O filme é composto por indícios, por sinais que aparacem durante o filme. Certas frases, certas cenas, imagens que esclarescem o que fica implícito no final.

Algo que me chamou bastante atenção foi o fato de que no começo e no final do filme existem cenas onde a imagem principal são os portões da escola, demonstrando a realidade daqueles romances que se desenrolaram ali, que por ali mesmo ficarão.

Amores repentinos, amores egoístas, amores suicidas, amor homossexual, há de tudo um pouco no filme, mas abordado de forma bastante madura, como se demonstra nas próprias atitudes de Junie. O amor, dado na dicotomia do efêmero e do eterno é a temática do filme. Junie e suas atitudes, que por vezes podem ser entendidas como frias, no fim se demonstram uma clara análise comportamental das pessoas por quem ela se apaixona. Querer manter vivo o amor de Otto, pensar realmente a fundo no amor de Nemours, as justificativas, as razões, a honestidade, o caráter sólido da jovem.

A trilha sonora é um caso a parte, muito da atmosfera criada no filme se deve às músicas. "Elle était si jolie", um clássico dos anos 60 que é tocado no jukebox em uma cena, a canção "Comme la pluie" cantada por Otto (Gregóire Leprince).

Interpretações fantásticas, principalmente por Louis Garrel e especialmente para atores que eu não conhecia (e não consigo achar nada na internet) como Esteban Carvajal-Alegria e Simon Truxillo.

Um filme que eu realmente recomendo. O trailer, para quem quiser conferir:




E por enquanto é só.